O Início do Cataclisma
“A vida é uma coisa tão frágil de manipular e de lapidar.”, assim pensava disperso o Cardeal Baskerville ao observar a terrível tempestade da última janela da mais alta torre de seu longínquo castelo Revange, nos confins da Irlanda. “E tudo começou há muito tempo atrás”, pensou enrijecendo os músculos da face um esgar macabro. Seus olhos azuis olhavam sem ver os raios e trovões que espocavam pelo negrume do céu. Serrando-os levemente foi arremetido a um passado distante.
Sua sina teve início com seu nascimento, filho bastardo de pai bruxo e mãe trouxa, ficou sendo conhecido por Alan Valmont. Seu pai, um bruxo com grande influência, poder e terras, assassinou a amante após o nascimento do menino. A mãe tentara obter frutos com esse nascimento, pedindo dinheiro e terras pela troca da criança, que por um acaso era o primogênito e bastardo. Com a negação dele fazê-lo ela começou a ameaça-lo em entregar para a inquisição e com base nessas ameaças ele resolveu por fim a vida daquela mulher. Fora entregue como um embrulho enjeitado a uma das poucas servas para ser criado. Cresceu sendo maltratado pelo pai e por todos, com desprezo e gestos hostis. Foi tratado com condescendência por um servo bem velhinho que lhe ensinou a ler e a escrever, possibilitando assim que pudesse pegar escondido os livros do gabinete do pai para poder ler.
Era tarde da noite quando o jovem Alan foi até o gabinete do lord para poder pegar outro livro para ler. Estava a escolher um livro em uma das prateleiras quando ouviu o som de passos e vozes se aproximando. Escondeu-se atrás de uma estante que ficava no campo mais escuro da sala. O dono do castelo adentrava na sala tirando o manto, sendo seguido de perto pelo servo velho, que lhe havia lhe alfabetizado. Numa conversa séria e em vozes contrariadas, o servo que fora antigo professor do lord, o recriminava por nunca ter dito ao jovem menino que era seu pai e ficou ainda mais contrariado quando lhe foi dito que seria mandado para o mosteiro para se tornar padre. Em todos aqueles anos, o lord observara o filho tentando descobrir se demonstrava ter magia e nada acontecera até aquele momento. O melhor era afastá-lo para sempre para a segurança dos bruxos que viviam nas várias propriedades dele.
Ao escutar aquela revelação bombástica, Alan precisou tapar os lábios com as mãos para não gritar angustiado a sua dor, depois de doze anos sendo tratado como paria, sofrendo chacotas, levando tapas, sendo hostilizado, comendo restos de comida e dormindo num quartinho úmido e malcheiroso, descobria ser filho do lord do castelo e o pior de tudo, fora tachado de bastardo trouxa e um aborto da natureza, por aquele que o gerara.
No alvorecer do dia seguinte, uma carroça foi atrelada a um cavalo forte, e a viagem até um mosteiro distante se iniciava. O mesmo servo o levava embora. Sentado ao lado dele, Alan virou-se para trás vendo o castelo desaparecer aos poucos. Em seu pequeno peito ardia uma chama que nunca iria se apagar. Cerrando as mãos até que as unhas cravassem nela arrancando sangue, fez um juramento silencioso de um dia vingar-se do pai por tudo que sofrera antes.
Durante a longa viagem, o servo Gustav revelou seu nome ao menino, e por não concordar com o que o lord havia feito, decidiu continuar a ajudá-lo enviando sua coruja com tudo o que Alan precisasse para continuar sua educação bruxa. Assim sendo, depois de deixar o garotinho no mosteiro, Gustav voltou para o castelo, e uma semana depois, na calada da noite, uma coruja cinza entrou pela janela da cela trazendo amarrada a sua perna uma estranha sacola, uma custa carta que explicava ser uma sacola mágica com vários livros de magia dentro, que se escondida num canto escuro se tornava invisível.
Os anos passados no mosteiro foram proveitosos, Alan vivia na Biblioteca lendo todos os livros que lhe caiam nas mãos, com surpresa descobriu ser bruxo aos dezessete anos, ao esticar a mão para tentar pegar um livro que estava fora de seu alcance, este veio lhe parar na mão. Arregalou os olhos olhando para os lados e deu um suspiro aliviado ao ver-se sozinho.
Numa das raras visitas de Gustav, este lhe ensinara a aparatar e ao vê-lo fazer magia apenas com as mãos lhe revelou que somente bruxos poderosos podiam fazer isso sem o uso de varinha. Durante dois anos, o velho Gustav ia até uma floresta perto do mosteiro e ensinava a Alan tudo o que um jovem bruxo precisava saber. Assim quando Alan completou 19 anos, urdiram um plano infalível. Depois de uma bebedeira do Lord, Gustav fez com que este assinasse um documento reconhecendo o jovem padre Alan Valmont como filho legítimo. De posse aquele documento, Alan pode então na mesma noite voltar ao castelo para perpetrar sua vingança matando o pai em uma noite de tempestade depois de torturá-lo durante dias com violência e sadismo.
De posse de sua herança pode subir na hierarquia da igreja em poucos anos tornando-se Vigário de Baskerville. Durante dois anos Gustav viajou pelo mundo bruxo e trouxa atrás de crianças que tivessem dons especiais. Um garotinho de dois anos foi a primeira aquisição. Dependo do local o próprio Baskerville ia buscar para dar mais veracidade a mentira de que iria levá-lo para se tornar noviço.
Assim que todas as crianças foram encontradas, algumas mais velhas, outras ainda bebês foram enviadas a um distante castelo na Irlanda, sobre a supervisão de Gustav. As melhores amas foram contratas para cuidarem das crianças. Assim que atingiam a idade de começarem a ser instruídas professores foram enviados, e com o uso de um feitiço eram controlados pelo bispo e por seu braço direito, Gustav. Os professores ensinavam a ler, escrever e davam aulas de etiqueta também. Assim que a utilidade dos professores trouxas era concluída, os mestres eram usados como alvo de caçadas para experimentarem o prazer de matar.
As crianças eram criadas juntas, sem distinção de cor, raça ou credo, crendo que o Vigário era como pai espiritual, faziam tudo que por ele era ordenado, dando assim um sentido de família. Eram de descendência bruxa pura. Confiança e fé cega eram duas coisas imprescindíveis para seu plano final. Usava alguns servos bruxos escolhidos a dedo por Gustav para trabalharem no castelo, para disfarçar a presença dos elfos domésticos.
Aos treze anos cada criança já havia descoberto qual “dom” era sua principal arma. E começaram a ser treinados separadamente por algumas horas por dia. Saber controlar o “dom” era de suma importância, e o próprio Gustav supervisionava tudo. E o último mestre foi usado como caça numa competição entre os sete pupilos, com os adolescentes mostrando o que tinham de pior dentro de si, sempre seguindo as regras impostas pelo Bispo de Baskerville.
Faltando pouco para que se findasse o ensino do jovens pupilos, o velho e leal Gustav veio a falecer dormindo. Mesmo sentindo falta daquele que havia sido como um pai para ele, o agora então Cardeal de Baskerville continuou seu tão engendrado plano. Por dois anos eles mesmo supervisionou o treino dos agora homens e mulheres de seu pequeno e seleto grupo.
Satisfeito com o ultimo teste Baskerville viu que era chegado à hora da última fase de seu plano entrar em ação. Mandou confeccionar sete armaduras, resistente, mais de liga leve, trouxe para o estábulo do castelo, sete Winged Horses tão negros como a noite. Uma última caçada foi feita com mais sete presos trouxas tirados das masmorras para essa única finalidade, desta vez usando espadas, varinhas e os dons especiais. O Cardeal queria ver a agilidade de seus comandados e o grau de obediência deles. Queria a ter a seus serviços assassinos que não tivessem ganas de matar quem fosse preciso, e essa caçada provou isso.
O ribombar de um trovão forte fez com que o Cardeal voltasse ao presente dando um profundo suspiro. Ao virar-se de costas para a janela um raio iluminou-lhe a silhueta revelando o sorriso sádico e diabólico. Devagar saiu do quarto que usava para fazer suas poções no castelo e começou a descer devagar a imensa escadaria em direção ao enorme salão. Aqueles homens e mulheres eram sua pequena, mais mortal família, e tinha orgulho dela.
No salão os Winged Horses relinchavam demonstrando excitamento e nervosismo. Sete cavaleiros, envergando suas armaduras, espadas, varinhas, chaves de portais e esvoaçantes mantos negros com capuz puxados sobre as cabeças aguardavam a ordem que os faria sair pela noite afora. A imensa porta de saída do salão encontrava-se fechada. O cardeal estacou em frente a eles ficando vários minutos apenas a observar o resultado de seu empenho. Eram suas crianças crescidas, seus filhos muitos queridos, de idade de 25 a 30 anos, podia ver em seus olhos a frieza necessária para executarem até o final sua missão.
Com seus queridos filhos ajoelhados no chão, o Cardeal passou por um por um para que lhe beijassem o anel, de novo a frente dele os abençoou, como um pai bruxo orgulhoso de seus filhos e brindou com eles ao sucesso da empreitada da noite. O ar estava elétrico com a expectativa da primeira saída.
Seus emissários estavam em fim prontos. Seus Cavaleiros Negros em fim iriam espalhar a destruição pelo mundo. O portão estava pronto para ser aberto!
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Créditos:
Idealizada por: Cris Elwing
Redigida por: Tay e Cris Elwing
Betada por: Pandy